A residência artística "Dança: imagem e gesto suspenso" foi desenvolvida durante o mês de julho por Rossana Fonseca (artista, curadora e investigadora). O resultado será apresentado ao público, pelo Balleteatro, no próximo dia 9 de agosto, em https://bt.balleteatro.pt/Residencias-Artisticas-online/rossanamendesfonseca/.

Dança: imagem e gesto suspenso

"Naquilo que comummente se apelida de sociedade da imagem — apenas possível pela massiva instauração dos meios de reprodutibilidade técnica visuais —, assistimos a um crescimento imparável dos social media (Instagram, TikTok, etc.), que, aliados às plataformas online de vídeo, aos blogues e aos websites, trazem até ao confortos dos nosso ecrãs, cada vez mais portáteis, formas de performance e de dança que, por sua vez, têm uma referência ao gesto mais quotidiano, mais comum, mais singelo, ao mesmo tempo, enformado por questões civis que se traduzem em imagéticas próprias a determinadas correntes e movimentos. Por outro lado, é pela imagem, sobretudo em tempos de social media, que acedemos cada vez mais a excertos, fragmentos, cortes de um Real (aparentemente) contínuo, e cuja apresentação parece acompanhar uma forma de percepção cada vez mais sincrética, fragmentária, errática, também ela descontínua. No entanto, se assistimos — como se diz — a eventos do outro lado do mundo em tempo real, se esta forma de percepção que é a dos dispositivos ópticos é uma percepção muito mais total e não subjectiva, será esta descontinuidade aquilo que caracteriza o Real, ao invés de uma continuidade, cujos intervalos, os entreactos vazios são fabricados por uma memória que se habituou a preenchê-los? Será o gesto suspenso que aparece na imagem, o gesto entrecortado, o gesto fragmentado, que corresponde ao Real no presente que ele é? Ou seja, o presente do agora na sua actualidade matérica em coexistência com o virtual que foi e será? Não começa o processo de criação coreográfica com a decomposição de uma série de gestos e sequências a re-organizar, a modular? E não é perante uma audiência vazia que se inscrevem os primeiros gestos, numa construção que termina antes do público entrar? Qual o potencial da imagem como dispositivo de visão e não como registo neutro de uma fatia de real?" (Rossana Fonseca)

Rossana Fonseca 

Rossana Mendes Fonseca é artista, curadora e investigadora. Estudou Fotografia (Spéos International School of Photography, 2010) e obteve um Mestrado em Estudos Artísticos – Teoria e Crítica de Arte (Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, 2011). Recentemente, doutorou-se em Arte Contemporânea (Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, 2024), com a tese «Perceção, Tempo e Memória na Génese da Fotografia» e o fotolivro (e)vidências.
Colabora com o grupo de investigação Estética, Política e Conhecimento (Instituto de Filosofia da Universidade do Porto) desde 2011 — com um breve interlúdio — tornando-se, recentemente, membro integrado do mesmo grupo.
Iniciou a sua jornada no CRU Creative Hub como artista residente em 2013. Assumiu a curadoria do programa de exposições do espaço em 2017, procurando activar relações dentro e fora da sua vasta comunidade criativa. Como artista, trabalha na intersecção entre a fotografia de naturezas mortas e o vídeo experimental; como curadora, procura incitar os artistas a encontrar uma abordagem diferente ao seu trabalho, seja este mais emergente ou já estabelecido. Além dos materiais visuais e textuais que cria para a CRU, editou duas edições da revista Duck Soup e escreveu vários artigos para diversas plataformas (imprensa escrita e online, académica e jornalística). Além disso, leccionou, entre 2016 e 2022, disciplinas artísticas, práticas e teóricas no ensino superior e em escolas de arte, e colaborou com a empresa de e-commerce Farfetch entre 2015 e 2023 em áreas como Copywriting, Controlo de Qualidade de Imagem, Styling e Fotografia de Produto.

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