"Resgate", pela P28 – Associação de Desenvolvimento Criativo e Artístico, 15 abril a 17 maio, Lisboa

Artes visuais
"Resgate", pela P28 – Associação de Desenvolvimento Criativo e Artístico, 15 abril a 17 maio, Lisboa

"Sem título", de Anabela Soares
 

A exposição “Resgate”, com curadoria de Luís Alegre, consiste num exercício dialético entre os escultores Anabela Soares, artista residente do ateliê da P28 desde 2013 e membro do coletivo Manicómio, e José Maria Rodrigues (1906-1999), mestre do barro preto, cujas expressões artísticas resistem à elitização e comercialização excessiva da arte. É uma possibilidade única de se mostrar em Lisboa um inestimável acervo de arte popular, cruzando realidades distintas de um mesmo universo.

“Resgate” pensa a arte como ferramenta de empoderamento e agente de mudança, convocando a capacidade das expressões populares de promoverem o valor intrínseco da arte como expressão cultural e pessoal, em vez de meros objetos de valor comercial ou estatuto social. A cultura popular revela-se acessível a um público mais amplo, oferecendo uma miríade de alternativas às tendências dominantes no circuito artístico, envolvendo ativamente comunidades locais e permitindo que pessoas de todas as idades e origens participem quer na criação, quer na sua fruição estética.


Resgate

David Graeber via a história humana como um processo não linear, marcado por desvios e resistências. A exposição “Resgate” reflete essa ideia, reunindo obras de José Maria de Ribolhos e Anabela Soares, unidos pelo uso do barro como meio de expressão e resistência contra o esquecimento imposto pela modernidade.

Anabela Soares utiliza a arte como meio para exorcizar medos e ansiedades, criando em barro peças figurativas às quais carinhosamente chama os “seus monstros”. Estes nascem de uma operação de resgate aos confins das suas inquietações. Desde 2015 que a sua obra integra regularmente exposições coletivas (P28, Chiado 8, Espaço Fidelidade Arte Contemporânea, Casa Fernando Pessoa, MAAT, entre outras), e individuais (Museu Bordalo Pinheiro, 2020).

José Maria Rodrigues nasceu em Ribolhos, Castro Daire, em 1906. Aprendeu a arte de moldar o barro e tornou-se num dos mais reputados oleiros de Portugal. Começou por produzir objetos domésticos utilitários, mas a mudança nos hábitos de consumo e a introdução de novos materiais forçaram-no a abandonar a roda de oleiro, passando a dedicar-se à construção de figuras inspiradas na vida rural e no quotidiano da Serra de Montemuro. Mestre Zé Maria afirmava resgatar as suas peças do chão, onde as cozia num buraco, de acordo com a técnica tradicional que utilizava.

A exposição “Resgate” não se limita a reunir dois artistas; propõe um confronto entre diferentes formas de resistência. Zé Maria responde ao desaparecimento do seu mundo, transformando a olaria tradicional numa expressão artística autónoma. Anabela responde à fragmentação da sua subjetividade modelando um imaginário próprio a partir da matéria bruta.

Mas em ambos há uma recusa em aceitar os limites impostos pelo contexto. Nenhum dos dois encaixa nas categorias convencionais: Zé Maria não é um simples oleiro tradicional, Anabela não é apenas uma artista outsider. Ambos operam num espaço intermédio, onde a arte ainda não foi completamente absorvida pelos mecanismos da institucionalização.

O "resgate", nas suas obras, atua em vários níveis: é a recuperação de uma matéria bruta, a preservação de tempos ameaçados e a afirmação de subjetividades marginalizadas. Zé Maria, diante do declínio da olaria tradicional, reinventou sua prática, transformando-a em arte com força expressiva e resistência cultural. Anabela, artista com experiência de doença mental, utiliza a cerâmica como forma de reconstrução pessoal e afirmação identitária, criando peças que evocam rituais e forças invisíveis.

Ambos os artistas recusam categorias convencionais. O resgate que operam não é nostálgico, mas insurgente — uma transformação que afirma a arte como gesto vital de sobrevivência e libertação.

A P28 é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Cultura/ Direção-Geral das Artes, no âmbito do Programa de Apoio Sustentado às Artes, Biénio 2025/2026.


FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

Artistas participantes: Anabela Soares e José Maria de Ribolhos
Curadoria: Luís Alegre


LOCAIS, DATAS E HORÁRIOS

Inauguração: 15 abril 2025, 18h
Patente de 16 de abril a 17 de maio de 2025
Quarta-feira a Sábado: 14h – 19h. Encerra feriados.
Galeria do Pavilhão 31 | Hospital Júlio de Matos | Av. do Brasil, nº 53 (entrada Rua das Murtas), Lisboa

Contactos:
Email: info@p28.pt
Instagram: @pvinteoito


BILHETEIRA

Entrada livre.


CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA

M/6

 

 


Apoio: República Portuguesa - Cultura / Direção-Geral das Artes