«Make Feminine» de Letícia Maia, até 22 junho, Maus Hábitos, Porto

Cruzamento disciplinar
«Make Feminine» de Letícia Maia, até 22 junho, Maus Hábitos, Porto

«Make Feminine» de Letícia Maia

"Mais do que uma exposição - mas uma ocupação artística que nos traz também um ciclo de performances - «Make Feminine» parte de inquietações sobre identidade e desidentificação e intenciona problematizar códigos sociais e semânticas de imposição normativa de gênero por meio de proposições artísticas transdisciplinares entre performance, fotografia, vídeo e escultura.

O processo de criação dos trabalhos que compõem o projeto, partem da mobilização de estratégias de apropriação e desvio dos usos e sentidos de atos, condutas, materiais e objetos, circunscritos em ideais normativos de gênero. Tendo a ironia e a ambivalência das aparências como modo de expor ambiguidades e criar contradições que desnaturalizam práticas e relações estabelecidas como norma. Acionando situações que frustram expectativas de aparência e desempenho que correspondem a um ideal normativo hegemônico.

A apropriação, mobilização e movimentação desses elementos e práticas de seu contexto originalmente atribuído funcionam, nestes trabalhos, como citações performativas fora de lugar, compostas de maneira inesperada com elementos que não participam de seu universo normativo, a fim de revelar suas contradições internas, enfatizando a artificialidade e o caráter fictício da naturalização do gênero.
Por se tratar de um projeto que conjuga a intersecção entre a materialidade e o acontecimento efêmero, a exposição, em seu caráter performativo, modifica-se processualmente a partir dos processos que envolvem a apresentação das performances e da elaboração poética de materialidades e objetos performativos ao longo da ocupação.

O projeto, com apoio da Direção-Geral das Artes, aponta para os processos de violência, hierarquia e opressão, direcionados aos corpos que desafiam, transgridem ou não correspondem completamente a normatividade – branco, masculino, classista, cisheteronormativo, colonialista, capacitista, etc., a fim de contestar e decompor a fantasia reguladora que rege o pensamento, fomentando a reflexão crítica.

A exposição tem recebido uma série de performances de autoria da própria Letícia Maia, onde a artista se propõe experimentar os procedimentos estéticos de produção da aparência como potenciais modificadores corporais, tomando este movimento de apropriação e desvio de uso como potencial estratégia de hackeamento na produção de diferentes modos de estranhamento, desconstrução e desidentificação em contraposição a concepção de identidade como uma categoria universal e imutável".

A próxima performance ("Postiça", com a participação de Priscilla Davanzo) acontece no dia 8 de junho, às 19h.