Museu dos Sons Perdidos Vol. 4, "A minha vida foi essa toda", de Filipe Faria, 26 outubro 2024 a 31 janeiro 2025, Idanha-a-Nova

Museu dos Sons Perdidos - Vol.4 - © Filipe Faria 2024
"O Museu dos Sons Perdidos. Fotografia Paisagens sonoras de Filipe Faria, a partir de Idanha-a-Nova - provavelmente o lugar mais bonito do mundo - um território UNESCO como Reserva da Biosfera, território do Geopark Naturtejo da Meseta Meridional e Cidade Criativa da Música, cruzando material e imaterial.
Ensaio: Ouvimos as palavras e os sons feitos de alegria, desgraça, escolha, vontade, de hoje, de ontem. Exercício: As palavras são âncoras, ditas ou escritas, gritos, sussurros. Experiência: As cantigas têm palavras lá dentro (e são tantas) as pessoas também. E o lugar. A voz deste lugar, São Miguel d’Acha, na voz desta mulher, Fátima Torrado Milheiro, nascida, aqui, em 1944. Esboço: Riscos sobre o poder da palavra, cantada, sofrida, falada, feliz, contida. Prova: Som sobre fotografia. Invisível sobre sais de prata. Ensaio: A voz não tem corpo nem cara.
O corpo (ou a paisagem) tem esta voz.
Tempo a passar.
E a paisagem, um veículo.
Dizem que Guglielmo Marconi (1874-1937), físico e inventor italiano, padrinho da tecnologia rádio, acreditava que o som não morre. Sonhava ouvir os sons perdidos, tocar nessas frequências eternas.
Podíamos ouvir tudo. Ouvir a primeira inspiração dos nossos filhos e dos nossos pais. Ouvir o primeiro grito da Humanidade, cada sermão, conselho sábio ou riso de todas as gerações. Ouvir o som grave da primeira erupção ou o canto agudo daquela ave que escapou para longe. Todos nós podíamos ouvir tudo. Ouvir tudo, para sempre.
Depois de produzido, o som não morria mas perdia poder, enfraquecia. Estas ondas sonoras, fracas, sem destino preciso, permaneciam eternamente a flutuar. Qualquer som podia, em teoria, ser recuperado. Ouvido pela primeira ou pela enésima vez. Qualquer som de qualquer lugar ou tempo passado. O primeiro e o último. Um som perdido podia ser ouvido, novamente, com o equipamento certo. Um equipamento poderoso. Um que conseguisse ouvir e escolher. Um por inventar.
Todos os sons são sons perdidos… ondas que flutuam, independentes de outras vontades, até que alguém as consiga sentir ou sem destinatário. Persistentes. Frágeis. Mudas. Flutuações brutais ou discretas. Gritos ou sussurros. Ruídos. Vozes. Com todas as histórias do mundo.
Ainda não foi possível inventar aquele equipamento poderoso com que poderíamos ouvir todos os sons perdidos, mas inventámos a forma de os guardar. Hoje, conseguimos ouvir o dia de ontem, desta ou de outra geografia. Mais ou menos secreto. Enchemos o planeta de sons perdidos. Sons que, dependendo da nossa vontade, podem voltar a ser produzidos.
A construção de um Museu dos Sons Perdidos parte daqui... da tentativa de perpetuar as ondas das memórias pessoais e colectivas de uma comunidade... e o seu potencial criativo. Fundador. Reconfortante. Assustador.
A paisagem sonora de todos e de cada um, construída pelas biofonias, geofonias e antropofonias de um território… o mundo silencioso a partir do qual nasceu.
E a imagem, um veículo."
(Filipe Faria)
Exposição: "A minha vida foi essa toda” - Museu dos Sons Perdidos Vol. 4, de Filipe Faria
→ patente de 26 de outubro de 2024 a 31 de janeiro de 2025
→ entrada livre
→ M/6
→ + info: www.artedasmusas.com
O Museu dos Sons Perdidos é um projeto Arte das Musas, da autoria de Filipe Faria, com o apoio da República Portuguesa - Cultura / Direção-Geral das Artes.