A Missão: Devoção, sagrado e o diálogo inter-religioso na Diáspora, 22 de junho em Torres Vedras

© Rita Santos 2023
Na génese do vasto processo de expansão ultramarina portuguesa dos séculos XV a XVIII, a missão religiosa surge como um dos vectores centrais de actuação, simultaneamente instrumento e expressão de um imaginário de universalidade cristã que legitimava a empresa colonial. Mas se, do ponto de vista institucional, a missão foi frequentemente entendida como um acto de imposição — da fé, do rito, da linguagem, da cultura e da música —, a realidade que os arquivos e a musicologia nos devolvem é, em muitos casos, a de um encontro, tenso e desigual, mas também fértil e transformador.
Neste espaço fluido da Diáspora portuguesa, onde o sagrado cristão se cruza com cosmologias ameríndias, africanas e asiáticas, surgem práticas musicais que desafiam categorizações simplistas. A música missionária, longe de ser um corpo estanque de repertórios importados da metrópole, foi moldada pela realidade sensorial e simbólica dos territórios colonizados. Da fusão entre vilancicos ibéricos e ritmos afro-brasileiros nas igrejas, à presença de instrumentos autóctones nas liturgias, a missão musical torna-se, paradoxalmente, um lugar de tradução e mestiçagem.
O presente programa de Sete Lágrimas propõe-se revisitar esse lugar liminar entre a ortodoxia e a adaptação, entre o dogma e o improviso. Evocando práticas devocionais, expressões do sagrado e formas musicais resultantes de séculos de contacto, o programa explora repertórios ora eruditos, ora populares, ora documentados, ora recriados, onde a espiritualidade se constrói no cruzamento de vozes, tempos e geografias. Cada peça é, simultaneamente, vestígio e reinvenção. A Missão, tal como aqui se enuncia, não é apenas a expansão da fé num movimento centrípeto. É também o eco de uma escuta — nem sempre voluntária, muitas vezes transformadora — da alteridade. Ao lado dos modelos trazidos da Europa, florescem dialectos musicais locais, reelaborações poético-sonoras, e afectividades expressas em novas línguas e timbres. A devoção musical na Diáspora é, assim, um exercício de negociação: com o divino, com o outro, consigo mesmo.
Num tempo em que as consequências desse legado ainda se fazem sentir nas relações entre os povos da lusofonia, Sete Lágrimas propõe uma escuta crítica e poética das rotas do sagrado. Este é um itinerário feito de memórias fragmentadas, de geografias imaginadas, de silêncios eloquentes e de cantos resilientes — em que a missão, mais do que imposição, se redescobre como possibilidade de encontro.
// HORÁRIO, DATA E LOCAL
22 de Junho, 2025, 16H00
Igreja de Santa Catarina, Ribaldeira - Torres Vedras
// FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Sete Lágrimas
Filipe Faria e Sérgio Peixoto, direcção artística
Filipe Faria (voz, percussão)
Sérgio Peixoto (voz)
Tiago Matias (vihuela, guitarra barroca)
Juan de la Fuente (percussão)
// BILHETEIRA
Disponível em: https://timeout.bol.pt/Comprar/Bilhetes/157415-festival_musica_antiga_ig...
// CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA
M/6
// MAIS INFORMAÇÕES
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