“O tempo das coisas”, pela Binaural Nodar, até dezembro, Museu do Linho de Várzea de Calde, Viseu

Fotografia: Manuela Barile. Desenho gráfico: Liliana Silva
Todas as pessoas vivem rodeadas por objetos que carregam mais do que a sua matéria física — trazem consigo histórias, memórias e afetos que cruzam gerações e, muitas vezes, atravessam territórios. Nesta terceira edição de “O Tempo das Coisas”, voltamos o olhar para essa riqueza complexa, dando especial atenção, quer aos objetos que foram custodiados desde os antepassados que viveram um contexto de ruralidade auto-suficiente, das alfaias, aos dos ofícios tradicionais e aos objetos da vida familiar, mas também àqueles que testemunham as mudanças sociais que as comunidades rurais viveram nas últimas décadas, sobretudo a experiência da emigração.
Estes objetos, guardados com cuidado e carinho, revelam uma conversa silenciosa entre o passado mais longínquo dos antepassados e o passado mais recente das transformações sociais.
A ligação profunda à terra, aos ritmos naturais e às tradições que moldaram a vida rural, testemunham de forma palpável um modo de viver essencial que, embora hoje distante dos objetos da modernidade, continuam a pulsar nas memórias de muitas famílias e na identidade coletiva.
Por outro lado, os objetos trazidos das terras onde muitos partiram em busca de novas oportunidades — na Suíça, na Alemanha, na Venezuela, em França — são símbolos vivos dessas trajetórias de mudança e de adaptação. Eles carregam marcas do trabalho, da convivência e das experiências concretas vividas nesses lugares, e são, ao mesmo tempo, pontes entre o aqui e o lá, entre o que ficou e o que foi construído longe. Alguns dos objetos guardados pelas famílias refletem, portanto, a forma como a vida se redesenhou num cenário social bem diferente daquele da origem destas pessoas..
“O Tempo das Coisas” convida-nos a escutar estas vozes que os objetos guardam. Ao partilharmos as histórias que acompanham cada um deles, honrar-se-ão memórias familiares e coletivas e, quem sabe, se fortalecerá o sentido de pertença e de autoestima dos grupos envolvidos. Amar e cuidar destes objetos é, afinal, amar a própria vida — a que foi vivida, a que se vive e a que se espera viver.
Nesta edição de “O Tempo das Coisas”, realizada em colaboração com o Município de Viseu, através do Museu do Linho de Várzea de Calde e com a Junta de Freguesia de Calde, propõe-se um percurso comunitário de encontros onde a partilha, o registo sonoro e fotográfico se cruzarão para dar voz a estes objetos e às histórias que eles guardam. O resultado será uma exposição fotográfica e multimédia, a ser inaugurada até ao final do ano, oferecendo a todos a oportunidade de conhecer e sentir a diversidade das memórias afetivas, através das coisas que nos acompanham.
Os curadores deste projeto convidam a população das várias aldeias da freguesia de Calde a escolherem um seu objeto de afeição, aquele que seja um testemunho da sua história familiar ou das mudanças que moldaram a sua vida para que, no seu conjunto, “O Tempo das Coisas” possa constituir um espaço de diálogo entre o passado e o presente, entre a ruralidade e a vida noutras paragens, entre a memórias e os futuros possíveis.
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
Uma produção da Binaural Nodar, em parceria com o Município de Viseu, através do Museu do Linho de Várzea de Calde, com a Junta de Freguesia de Calde e integrado no projeto europeu Rede Tramontana.
Ideia original: Luís Costa
Desenho metodológico e técnico: Luís Costa
Registos fotográficos e dispositivo multimédia: Ana Margarida Ferreira e Nely Ferreira
Entrevistas e registos sonoros: Ana Margarida Ferreira e Nely Ferreira
Desenho Gráfico: Liliana Silva
Transcrição e escrita de Textos: Andreia Mota
LOCAIS, DATAS E HORÁRIOS
Museu do Linho de Várzea de Calde
outubro a dezembro de 2025
Calçada do Eirô nº18
Várzea
MAIS INFORMAÇÕES
Apoio: República Portuguesa - Cultura, Juventude e Desporto / Direção-Geral das Artes