"Erêndira! Sim, Avó..." é a sugestão d'A Barraca para a última noite do ano

Teatro
"Erêndira! Sim, Avó..." é a sugestão d'A Barraca para a última noite do ano

"A Incrível e Triste História da Cândida Erêndira e da Sua Avó Desalmada", do nobelizado Gabriel García Márquez, é adaptada por Rita Lello e interpretada por um elenco que inclui Maria do Céu Guerra, João Maria Pinto e Sara Rio Frio. Conta a história de Erêndira, uma adolescente que se torna prostituta para saldar uma dívida que tem para com a avó.

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"Erêndira! Sim, Avó..."
(Por Rita Lello)

Texto a partir d'A Incrível e triste história de cândida Erêndira e sua Avó Desalmada de Gabriel García Márquez

"Estava Erêndira a dar banho à Avó quando começou o vento da sua desgraça". É com estas palavras que o prémio Nobel da literatura, Gabriel García Marquez, abre a novela curta que está na base deste espectáculo. Usando como pano de fundo a triste realidade da exploração sexual de menores na profunda Colômbia mágica, Gabo dá-nos a conhecer a relação de exploração entre uma Avó desalmada e uma neta cuja candidez e cega obediência suporta extremos de violência sexual impensáveis. “Se as coisas continuarem assim pagas-me a dívida dentro de oito anos, sete meses e onze dias.“, contabiliza a Avó. Se tivermos em conta que a média diária são setenta homens a quem Erêndira presta por dia os seus serviços, teremos ideia do nível da exploração que este corpo de 14 anos acabados de fazer terá de suportar, da crueldade da avó e do desnorte a que chega uma sociedade indígena violentada por missionários evangelizadores e regida por militares sem escrúpulos. Não podendo olhar para esta narrativa senão como uma metáfora, e tendo em conta que García Marquez é um escritor que aliou como poucos uma escrita mágica às preocupações sociais e politicas, não é estranho que ela nos evoque imediatamente a relação de exploração existente entre países ricos e países pobres. A dívida de Erêndira; nascida de um descuido numa desgraçada noite de vento em que, caída de cansaço, adormeceu antes de apagar uma vela; vai aumentando à medida que a paga. A avó rejuvenesce a cada pagamento que recebe da mão dos tais setenta homens que por dia se servem de Erêndira. Rumo ao mar, embalada pelos amores sonhados com contrabandistas sedutores a caminho da travessia para a desejada ilha de Aruba, a baleia irá morrer na praia às mãos de Ulises amantíssimo anjo libertador de uma Erêndira que nunca mais parará de correr.

Para a estrutura do trabalho de adaptação, inspirei-me nas Station Plays, prodigiosa herança novecentista do teatro medieval que, ao libertar-nos da prisão da narrativa realista, permite que de estação em estação o espectáculo estacione para o teatro ter lugar. Esta opção nasce do reconhecimento de que, na escrita de García Marquez existe uma Erêndira que é também ela, na sua itinerância, uma mártir levada, de estação em estação, a cumprir a sua Paixão, o seu Calvário.

E então o espectáculo. E então escolher, abdicar, experimentar. Encontrar um espaço cénico que permita contar uma história que atravessa a Colômbia imaginada de García Marquez, ir ao encontro de um ambiente que permita ao realismo mágico respirar. Aplicar recursos múltiplos e usá-los sempre de modo a perseguir a artesanalidade inaugural de todos os desfloramentos. A artesanalidade dos pobres. Neste teatro não está o texto no centro, não está a palavra na boca do actor. O texto de García Marquez é um texto de imagens, um texto para ser imaginado, não para ser dito mas para ser lido. Para ser visto com a imaginação".

Rita Lello

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Ficha artística e técnica:
Direção e adaptação: Rita Lello
Assistente de encenação: Rita Soares
Espaço cénico: Rita Lello
Carpintaria: Mário Dias
Figurinos: Maria do Céu Guerra
Adereços: Marta Fernandes da Silva
Assistente Guarda-Roupa: Sérgio Moras
Costureira: Zélia Santos
Seleção musical: Rita Lello
Música original e arranjos: João Maria Pinto
Desenho de luz, vídeo e edição: Paulo Vargues
Sonorização: Ricardo Santos
Assistência à montagem: Fernando Belo
Animações: Paulo Vargues
Relações públicas e produção: Inês Costa, Paula Coelho, Sónia Barradas
Fotografia: Ricardo Rodrigues
Elenco: Maria do Céu Guerra, João Maria Pinto, Sara Rio Frio, Adérito Lopes, João Parreira, Rita Soares, Ruben Garcia, Samuel Moura, Sérgio Moras
Estagiários: Alexandre Castro, Diogo Varela

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Locais, datas e horários:
31 de dezembro de 2017, às 22h00 
A Barraca 
Largo de Santos, 2, Lisboa
+351 213 965 360

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Público:
Classificação etária: maiores de 16 anos

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Mais informações:
www.abarraca.com/index.php?option=com_barraca&view=emcena&Itemid=12