SEMPRE, de Ana Jotta, 5 março > 31 julho, Maumaus, Lisboa

Artes plásticas
SEMPRE, de Ana Jotta, 5 março > 31 julho, Maumaus, Lisboa

© Ana Jotta, 2022

Mas o que é que eu tenho?
Deixem-me dizer-vos o que é que eu tenho
Que ninguém me o vai tirar

Na sua exposição no espaço Lumiar Cité, intitulada SEMPRE, Ana Jotta apresenta um filme e desenha uma sala de cinema – a artista como produtora e realizadora? O título do filme:
SEMPRE. Horários de exibição? Nem por isso, apenas os horários de abertura de uma galeria e um cartaz de cinema.

Tenho o meu cabelo na minha cabeça
Tenho o meu cérebro, tenho os meus ouvidos
Tenho os meus olhos, tenho o meu nariz
Tenho a minha boca, tenho o meu sorriso

No centro da exposição está um ecrã, a principal superfície para a artista atuar, instalado cuidadosamente no nível superior da galeria, transformado numa sala de cinema que mostra um filme, o seu filme.

Tenho a minha língua, tenho o meu queixo
Tenho o meu pescoço, tenho os meus seios
Tenho o meu coração, tenho a minha alma
Tenho as minhas costas, tenho o meu sexo

O filme de Ana Jotta parece ter a imagem fixa – uma imagem congelada como num computador ou o resultado de um rasgo no filme? A luz é importante, necessária para apreciarmos a arte, mas a arte também precisa de ser protegida da luz, para o ecrã se transformar na superfície cintilante que tanto ansiamos quando vamos ao cinema.

Tenho os meus braços, tenho as minhas mãos
Tenho os meus dedos, tenho as minhas pernas
Tenho os meus pés, tenho os meus dedos dos pés
Tenho o meu fígado, tenho o meu sangue

Cortinas por todo o lado. Quem não se lembra da hilariante publicidade da Pepsodent numa das salas de cinema do Quarteto? O foyer da sala de cinema, instalado com o mesmo cuidado – a antecâmara transforma-se na câmara principal, com as suas próprias normas –, onde o certificado de vacinação é verificado e aguardamos ser admitidos na sala. Ana Jotta providencia os assentos e olhamos de relance para o cenário – que cenário! – e para um cartaz que supostamente nos deveria persuadir para comprar um bilhete: a entrada é gratuita...

Vivo, vivo a minha vida. (Nina Simone, 1968)

Ana Jotta (1946) vive e trabalha em Lisboa. A sua obra foi apresentada nacional e internacionalmente, incluindo nos seguintes espaços: Culturgest (Lisboa e Porto), Établissement d'en face (Bélgica), Le Crédac (França), MAAT, Malmö Konsthall (Suécia), e Museu de Serralves. Foi-lhe atribuído o Grande Prémio Fundação EDP (2013), o prémio AICA/SEC/Millennium bcp (2014) e o Rosa-Schapire-Kunstpreis (Hamburger Kunsthalle, 2017).

 


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www.maumaus.org