“Lugar Comum”, pelo Quarteto Contratempus, 25 e 26 de novembro, Porto

Ópera
“Lugar Comum”, pelo Quarteto Contratempus, 25 e 26 de novembro, Porto

© Pedro Sardinha

"Nos dias 25 e 26 de novembro todos os caminhos vão dar a um 'Lugar Comum”… Ópera sobre a Violência Contra a Mulher resulta da vontade da Misericórdia do Porto, Quarteto Contratempus e do Rivoli 

Uma conjugação de vontades face a uma problemática tão crítica e atual como é a da Violência Contra a Mulher (tópico que pode, não raras vezes, ser conjugado no plural) esteve na génese do projeto artístico de uma ópera, com a denominação de “Lugar Comum”, começar a ganhar forma. 

No decorrer do processo, a ideia matriz colheu o interesse tripartido da Misericórdia do Porto, do Quarteto Contratempus e do Rivoli – Teatro Municipal do Porto. O objetivo prosseguido foi o de uma criação que espelhasse no palco de um teatro a dureza da realidade social que o palco doméstico esconde. Por vezes, mesmo estando à vista de todos, a situação permanece oculta e sem ser alvo de denúncia, sobretudo se ocorrer com pessoas de franjas mais estigmatizadas ou vulneráveis da sociedade. A ideia ganhou corpo e foi mobilizadora das partes. O resultado será agora partilhado num espetáculo com duas récitas marcadas para os próximos dias 25 de 26 de novembro (sexta e sábado às 19h30), que terão lugar no Grande Auditório do Teatro Rivoli. O acesso ao espetáculo é gratuito para ambos os dias.

A escolha da data de estreia tem uma dimensão simbólica, a de assinalar a data de 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Tendo em vista tudo o que Lugar Comum está prestes a consagrar em cena, é importante realçar que para o efeito, e durante 36 meses, colaboradores da área social da Misericórdia do Porto, artistas e públicos vulneráveis uniram-se na desconstrução de conceitos e cenários de violência contra as mulheres, com a construção de 25 fragmentos de arte que convergiram para este espetáculo final. O conjunto destas ações foi assim fundamental para a estruturação da ópera.

Promovido pela Misericórdia do Porto e financiado pelo Portugal 2020, o projeto “Mudando o que tem de ser Mudado” visa a prevenção da violência contra as mulheres e envolveu vários grupos de utentes das suas respostas sociais, nomeadamente: crianças e jovens, pessoas com deficiência e/ou incapacidade, idosos, vítimas de violência doméstica e pessoas em situação de emergência social. Nada de nós sem nós, configura uma poderosa estratégia de empoderamento e inclusão. Para o Provedor da Misericórdia do Porto, António Tavares, “este é um projeto que queremos transformador, transformador para as vítimas, convertendo as suas experiências traumáticas em exemplo de voz e empoderamento, inspirando outras que agora vivem essa realidade, e transformador para a sociedade, transformando a indiferença e omissões em espelhos de rejeição à violência. Não é ao acaso que decidimos que as portas do espetáculo vão estar abertas, é um convite (que não pode ser recusado) à participação de todos, com o objetivo de sensibilizar, envolver e responsabilizar. Este é um projeto de todos e para todos, porque amanhã todos podemos ser a vítima. Temos de parar, temos de mudar este lugar comum.” 

No seio da abordagem ficcional, sem a pretensão de um qualquer psicodrama pessoal, o que se propõe enquanto sinopse da peça traduz o espírito do que se vai ver em palco: “Um lugar comum, que é de todos, com vozes femininas que falam baixinho dos seus gritos mais íntimos, com instrumentos que nos são comuns e tornam os nossos dias menos comuns, com palavras que são dadas sem partir nem baralhar. A ópera tem sido uma longa conversa com os homens que parecem que nem os seus gritos conseguem ouvir. A ópera traz consigo distantes agudos femininos desde o tempo em que nem sabia que aqueles sons existiam. Ou então, habituamo-nos tanto a ouvi-los que se tornaram num lugar comum”.

Mário João Alves, responsável pela conceção do libreto, situa a ação um pouco mais: “O lugar Comum começa a doer pelo seu próprio nome; por se dizer Comum e pelo seu simples existir como Lugar. Porque o rigor do sítio e a nudez do espaço são imensas, amontoadas, mas à enormidade do espaço contrapõe-se um teto baixo de luz branca, claustrofóbico.” E aproveita para acrescentar: “E este ar frio, visível pelo bafo da respiração, é como um berro surdo, uma golfada de ar espesso, largada assim que acabada de engolir. Dizer o quê, escrever o quê num lugar assim?”, deixa a interrogação a si próprio, com resposta que se intui, mas que de igual modo fará eco nos espectadores.

Nos dias 25 e 26 de novembro, o “Lugar Comum” será, numa das aceções subjacentes, o Rivoli e o ‘denominador comum’ mobilizador será a questão da Violência Contra as Mulheres. Urge por isso ocupar o Lugar.

A ópera “Lugar Comum” tem como promotor a Santa Casa da Misericórdia do Porto, sendo uma produção do Quarteto Contratempus, com coprodução do Teatro Municipal do Porto.


FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Libreto Mário João Alves
Composição Sofia Sousa Rocha
Encenação António Durães
Assistência de Encenação Tatiana Rocha
Direção Musical Constança Simas
Apoio ao Movimento Leonor Keil
Interpretação Teresa Nunes (soprano), Miguel Leitão (tenor), Crispim Luz (clarinete), Masnuela Ferrão (violoncelo), Carolina Leite Freitas (violoncelo), Sérgio de A (piano) e Leonor Keil
Coro Ana Rosa, Beatriz Ramos, Natali Gonçalves e Teresa Queirós
Mapeamento e Criação Multimédia Hugo Mesquita
Desenho e Operação de Luz Mariana Figueroa
Desenho e Operação de Som José Afonso Monteiro
Figurinos e Cenografia Cláudia Ribeiro
Assistentes de Figurinos e Cenografia Joana Castanheiro e Maria Cavaggioni 
Maquilhagem Cristina Araújo
Produção Tatiana Rocha
Fotografia Pedro Sardinha
Teasers e Registo Vídeo Miguel F
Apoio às Residências Teatro Municipal da Guarda, Munícipio de Ponte de Sor, CRL-Central Eletríca
Coprodução Teatro Municipal do Porto - Rivoli
Promotor Misericórdia do Porto


MAIS INFORMAÇÕES

www.teatromunicipaldoporto.pt

 

 


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