"ilusão teimosa.mente persistente", pela EIRA, 9 outubro, Lisboa

© Susana Paiva
Em "ilusão teimosa.mente persistente", Magnum Soares e Francisco Camacho tomam as suas diferenças culturais, físicas e etárias como ponto de partida para irem ao encontro um do outro. O espectáculo avança por ambientes e situações contrastantes, conciliando a concretude de um plano narrativo e a força da abstracção. Os elementos cénicos e as luzes de Hugo Coelho, aliados às derivas sonoras de Albrecht Loops, mais potenciam o repto a quem assiste de livremente exercer o seu direito à imaginação, à especulação sensorial.
Os corpos que surgem no horizonte vão ganhando nitidez por entre um entrelaçado que ora pode evocar prisão e opressão, ora amplia a situação dos corpos que nunca perdem o contacto, oscilando entre um toque ligeiro e superficial e o encaixe mais complexo. Por longo tempo, os dois teimam em manter a ligação física entre si, por mais ínfimo que seja o ponto de contacto. Arquitectam modos de habitarem um no outro, de se encaixarem e sustentarem mutuamente, e nem sempre é claro quem domina o momento, quem tem a iniciativa de seguir caminho. É intencional que existam assim, sempre um com o outro, solidariamente interdependentes. Os seus corpos-invólucros movem-se também porque querem aceder ao conhecimento de si e do outro.
Na inevitável quebra do elo corporal entre ambos, a aproximação faz-se depois através da evocação de experiências pessoais, dos lugares de onde vieram, por onde passaram e onde se encontram. Nas suas histórias, o Brasil e Portugal são iniludíveis, mas liga-os também o continente africano, terra dos ascendentes de um e lugar da infância do outro.
Movidos pelo desejo de ficção, usam registos fotográficos encontrados para criar novas narrativas. Na reescrita de vidas alheias, não deixam de falar de um contexto mais vasto, a que se ligam os percursos de vida de si mesmos e das suas famílias. Esta operação quer interpelar uma história escrita para lá das vontades pessoais, que não pode fugir à acção dos antepassados e a figuras que no exercício do poder determinaram remotamente as circunstâncias das vidas de hoje.
Se a fotografia é o imortalizar de um instante, esse devém logo passado. Magnum e Francisco perseguem as imagens que querem deixar de si, sem que no entanto que elas fiquem registadas senão na memória do espectador. Presos num simulacro, os seus corpos escapam e metamorfoseiam-se.
E é numa atmosfera que concilia um presente quase futuro e um tempo antes, até pela convocação sonora de alguma ancestralidade e tradição, que as suas figuras reaparecem. Estes seres imaginários, por um lado, apontam para uma religação aos primórdios, por outro lado, mais acentuam a necessidade de ambos de restabelecerem o contacto, de se unirem, de juntos persistirem na tentativa de reequilíbrio do mundo.
FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA
COCRIAÇÃO E INTERPRETAÇÃO Francisco Camacho e Magnum Soares
LUZ, VIDEO E CENOGRAFIA Hugo Coelho
MÚSICA ORIGINAL Albrecht Loops
EXECUÇÃO FIGURINOS Marisa Ribeiro
DIRECÇAO DE PRODUÇÃO Lucinda Gomes
PRODUÇÃO ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA Teresa de Brito
PRODUÇÃO EXECUTIVA Soraia Gonçalves
PRODUÇÃO EIRA
COPRODUÇÃO Festival de Montemor-o-Velho | CITEC - Centro de Iniciação Teatral Esther de Carvalho
RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS Biblioteca de Marvila, Escola Básica e Secundária Luís António Verney
AGRADECIMENTOS Teatro da Voz, Sonoscopia
FINANCIAMENTO República Portuguesa - Cultura / Direção-Geral das Artes e Câmara Municipal de Lisboa
LOCAIS, DATAS E HORÁRIOS
9 outubro 2024, às 21h00
Auditório da Biblioteca de Marvila, Lisboa
Apresentação integrada no Programa "Os dias de Marvila"
BILHETEIRA
Entrada gratuita mediante reserva para: bib.marvila@cm-lisboa.pt
CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA
M/12
MAIS INFORMAÇÕES
Apoio: República Portuguesa - Cultura / Direção-Geral das Artes