A artista Ana Carucci vai desenvolver, na aldeia de Ribolhos (Castro Daire), um conjunto de obras que entrelaça cerâmica, som e memória material, tomando como ponto de partida a técnica ancestral do barro negro e a sua profunda ligação ao entorno natural de Ribolhos.
Em formato de residência artística, o projeto intitula-se Ouvir, tocar e imaginar o barro negro e surge do desejo de dialogar com uma tradição viva através da sua prática contemporânea, "com a intenção de criar peças que desafiem categorias fixas". A iniciativa decorre entre 19 de agosto e 7 de setembro.
“Ana Carucci construirá uma série de objetos cerâmicos que funcionam como possíveis instrumentos, esculturas ou ambos ao mesmo tempo. Peças que produzem som, sugerem utilidade ou a contradizem; ativam um espaço poético entre o funcional e o inútil, o quotidiano e o simbólico. O cerne desta exploração reside na tensão entre funcionalidade e a evocação. Algumas peças terão apitos, enquanto outras incluirão ranhuras, texturas, cavidades e corpos vibratórios, semelhantes a idiofones de fricção, para explorar sons ténues, secos, ásperos, agudos ou ressonantes. A artista também irá gravar sons do ambiente circundante e do processo criativo, combinando-os posteriormente com os produzidos pelas peças para compor uma atmosfera sonora e material
A artista está particularmente interessada em como a cerâmica negra de Ribolhos se transformou quando o plástico irrompeu para substituí-la, passando de servir necessidades concretas para se tornar num veículo de representação, de narrativas e de simbolismo. A partir dessa mudança, Ana Carucci pretende considerar os objetos como formas nas quais as regras de uso se expandem, se confundem e se sobrepõem. Essa transição do funcional para o simbólico permite-lhe explorar outras formas de relacionar-se com os objetos, mais abertas, sensíveis e vivas.
O motor central do trabalho de Ana Carucci reside na relação entre natureza e cultura, e neste projeto essa interseção toma forma: a argila como um material vivo e pleno de história, e a sua perspetiva como uma lente sensível filtrada pelo presente. A artista é atraída pelo que pode emergir neste diálogo entre a sua experiência tátil com o material, a memória desta prática, o que irá encontrar, o que irá trazer consigo e o que irá sonhar enquanto trabalha.
Ana Carucci é uma artista argentina atualmente radicada em Espanha. Ela dedica-se à pintura, ao desenho e ao som, criando instalações artísticas, música e paisagens sonoras. As suas obras surgem da exploração dos espaços entre a abstração e a literalidade, brincando com a linguagem e a memória dos sentidos. A natureza e a sua relação com a cultura são um tema recorrente na sua prática artística. Em 2022, Ana Carucci participou no programa de residência AADK Espanha e na residência Countdown Grabowsee em Berlim, Alemanha. Em 2024, participou no programa de residências artísticas “O cantar das nascentes” produzido pela Binaural Nodar. O seu trabalho Notebook 1 foi selecionado pelo Fundo de Artes Visuais da Argentina no contexto do seu prémio nacional em 2017”.
Artista residente: Ana Carucci
Produção, documentação e mediação comunitária: Luís Costa, Ana Margarida Ferreira e Nely Ferreira
Parcerias locais: Município de Castro Daire e União de Freguesias de Mamouros, Alva e Ribolhos.
Cofinanciamento: Programa Europa Criativa (Projeto Rede Tramontana) e República Portuguesa – Cultura, Juventude e Desporto / Direção Geral das Artes
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