O projeto MUDA – Assédio nas Artes em Portugal divulgou esta semana os resultados preliminares do questionário nacional sobre assédio laboral (moral e sexual) no setor artístico em Portugal, financiado pela Direção-Geral das Artes. Os dados revelam que 74,8% das pessoas inquiridas afirmam ter experienciado situações de assédio moral e 49,8% referem ter passado por assédio sexual.
O inquérito esteve aberto a profissionais e estudantes do setor da cultura e das artes, pretendendo identificar a diversidade de manifestações e seus impactos a nível psicológico e social, caracterização fundamental para transformar — através de propostas de mudança que tenham por base experiências pessoais — práticas de trabalho que possam potenciar situações de assédio, não consentimento, abusos de poder, manipulação e vitimização.
Dos resultados preliminares, destaca-se ainda que entre 40% e 77% dos casos (das pessoas inquiridas que afirmam ter experienciado situações de assédio) envolveram situações em que existia hierarquia, sendo frequente a presença de pessoas em chefia artística ou pedagógica entre os potenciais agressores. As situações registam-se tanto em atividade profissional remunerada (43% a 74%) como em contextos de formação artística, certificados ou não certificados. Entre 39% e 70% das pessoas afetadas nunca apresentaram queixa formal, apontando como razões principais o receio de consequências na carreira; o desgaste emocional; a ausência de provas ou testemunhas. O estudo traça também um retrato preliminar da amostra: 70,2% mulheres cisgénero, média de 38,49 anos, predominância de residência urbana, elevado nível de formação superior e forte presença de profissionais independentes.
O MUDA sublinha que "estes resultados têm carácter preliminar e devem ser cautelosamente interpretados. A participação no questionário foi voluntária e disseminada online, o que pode gerar viés de auto-seleção e não permite afirmar que a amostra é representativa de todo o setor artístico em Portugal. Adicionalmente, não estão ainda publicados todos os detalhes metodológicos, nomeadamente critérios de definição de assédio, distribuição por áreas artísticas ou análises estatísticas completas. Assim, os valores apresentados não devem ser interpretados como prevalência absoluta, mas sim como indicadores de tendência e sinais de preocupação que reforçam a necessidade de aprofundar o diagnóstico e estruturar respostas institucionais".
Catarina Vieira, Raquel André e Sara de Castro são as responsáveis pelo projeto MUDA - Assédio nas Artes em Portugal, estando o estudo científico a cargo de uma equipa multidisciplinar (nas áreas de psicologia, sociologia e direito do trabalho) composta pelas investigadoras Ana Bártolo (Universidade Portucalense), Isabel Silva (Instituto Piaget - ISEIT, Viseu), Dália Costa (docente universitária e investigadora do ISCSP) e Joana Neto (advogada e docente universitária da Universidade Lusófona do Porto). O estudo conta ainda com a colaboração de um conjunto de entidades parceiras, nomeadamente o CET (Centro de Estudos de Teatro) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, a Fundação GDA, a REDE - Associação para a Dança Contemporânea, o CENA-STE – Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos e a PLATEIA - Associação de Profissionais das Artes Cénicas.
Os próximos passos do projeto incluem a realização de uma análise detalhada dos dados, que será incluída numa publicação final dos resultados (em março de 2026), com o enquadramento metodológico completo, análises quantitativas e qualitativas detalhadas, cruzamentos sociodemográficos e recomendações para políticas públicas e práticas institucionais no setor artístico.
O financiamento da DGARTES surge na sequência da celebração de um acordo de parceria que resultou de uma proposta desenvolvida por um conjunto de criadoras, intérpretes e outros profissionais das artes performativas.
→ saiba + em www.mudaprojeto.com
Data de publicação: 27.11.2025

