Performance "A Arca do Vento" de Eunice Artur, 22 fevereiro, Lisboa

DESCRIÇÃO:
No dia 22, às 19h00, na Cisterna da Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, Eunice Artur apresenta uma performance que é um convite à participação numa viagem sensorial, intitulada «A Arca do Vento».
Nesta performance intimista, a artista guia individualmente cada participante através de uma cartografia sonora, evocando as paisagens do Baixo Guadiana. Apresenta elementos naturais recolhidos nas suas caminhadas pelas zonas húmidas da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, e na Ria Formosa, que serão dispostos no espaço, criando um mapa tátil e visual.
A Cisterna da FBAUL, outrora reservatório de água, agora vazia e envolta em escuridão, amplifica os sons e as sensações, oferecendo um ambiente propício à introspeção.
A performance terá duração de dez minutos com cada participante.
Eunice Artur, a artista que apresentará a sua performance no ciclo Fake Extreme Art (FEA), da Galeria Ana Lama, na Cisterna, faz parte de um grupo de artistas visuais pioneiros naquilo que se designa como Earthworks. Embora a terminologia mais comum para esta forma de expressão artística seja Land Art, acreditamos que o termo Earthworks é mais preciso.
Eunice pertence a uma geração relativamente mais recente que dá continuidade ao legado de artistas como Alberto Carneiro e Clara Menéres, ambos de grande relevância em Portugal. Quando falamos de Earthworks, referimo-nos a uma forma de operar na arte que evoca a ideia de paisagem e de natureza, uma aproximação à paisagem de forma pura, sem elementos humanizados.
A arte conceptual justificou uma certa distância da literalidade na arte, direcionando-se para o campo das ideias, muitas vezes evocando teoria e arte, como nas propostas letristas nas quais os textos são dispostos em paredes, de par com outros materiais visuais, e se tornam o objeto de fruição. Com estes Earthworks, a dinâmica é um pouco diferente; as propostas de Land Art funcionam mais como um mecanismo de media «real».
Nesse sentido, o Earthworks, assim como a Pop Art, entrega-se a uma literalidade do que parece prosaico. No caso do Earthworks, com elementos que remetem para a natureza; no caso da Pop Art, com elementos de consumo que evocam a vida nas cidades. A natureza, para muitos destes artistas, é uma extensão dos seus corpos, algo impregnado de uma imanência que, dependendo do caso, é mais ou menos espiritual.
A relação entre Eunice Artur e a programadora deste evento, Ana Lama, é, por coincidência, especial: são primas. São primas, mas não temos a certeza em que grau.
Eunice Artur e Ana Lama, primas.
A artista visual Eunice Artur, prima de Ana Lama – a pioneira deste projeto e a pessoa a quem fazemos tributo –, será a performer que vamos apresentar para terminar este bloco de programação da Galeria Ana Lama, nos making of, que, como se sabe, cruzam performance, vídeoarte e literatura.
Na aldeia, a sua prima Ana Lama é conhecida como «a primata, a prima que mata». Ana Lama é a sua prima que mata, primata em segundo ou terceiro grau, figura de estilo. É que ela é um pouco feérica; há em si alguma raiva, um desespero indignado, crónico. A primata Ana Lama, como é conhecida na vila de Cinfães.
Quando sabemos a história de alguém, quando temos a certeza, essa pessoa infelizmente torna-se nossa familiar. Se sabemos quando alguém nasceu, se a vimos continuamente e se sabemos quando algum familiar morreu, sabemos demasiados factos da vida dessa pessoa. Ganhamos-lhe familiaridade. Infelizmente, é assim.
Prima em terceiro grau, em segundo grau, obragrau da prima, que é como uma irmã.
Prima de quem temos orgulho. O orgulho é em grau diferente, é sentir e sabermo-nos familiares. Aliás, o familiar é a exceção e é um ato institucional.
As salas das urgências dos hospitais são assim, os carros de primos-socorros, aquilo de que primeiro nos lembramos quando somos designados com a alta patente daquilo que nos transcende.
Ana Lama e Eunice Artur, juntas, em 2022, embarcaram numa viagem por diversas florestas europeias, experiências que também influenciam a narrativa desta performance.
Na viagem que ambas fizeram, partiam da premissa segundo a qual, durante três meses, visitariam vinte (20) florestas na Europa, sempre de noite. Os percursos foram feitos num Mini R57 — com capota, branco e carmim — alugado.
Floresta de Sherwood (Inglaterra), floresta de Białowieża (Polónia/Bielorrússia), floresta Negra (Alemanha), floresta de Fontainebleau (França), floresta de Brocéliande (França), floresta de Hoia Forest (Roménia), floresta de Cevennes (França), floresta de Tatra (Polónia/Eslováquia), floresta de Daintree (Reino Unido), floresta de Epping (Inglaterra), floresta da Lapónia (Suécia), floresta de Krasnoyarsk (Rússia), floresta de Aokigahara (Eslovénia), floresta de Wistman’s Wood (Inglaterra), floresta de Hürtgenwald (Alemanha), floresta de La Garrotxa (Espanha), floresta de Killarney (Irlanda), floresta de Val d’Aran (Espanha), floresta de Sárvár (Hungria), floresta de Montes de Toledo (Espanha).
Mas tiveram um percalço na floresta da Lapónia, onde chocaram contra uma árvore e passaram boa parte da noite ao frio, enquanto esperavam por ajuda.
Saíram da estrada, vindo a embater com a dianteira do carro numa árvore. Isto aconteceu porque, na Finlândia, toda a gente se preocupa com o bem-estar das renas.
Elas não sabiam desta situação.
Para evitar que as renas morram atropeladas por carros — acidentes muito comuns na região —, uma associação de criadores de renas fez com que os animais brilhassem durante a noite.
Os criadores de renas pulverizaram dois líquidos refletores nos animais. Um deles é para a madeira, e o outro é para a pele. Assim, elas brilham caso um carro se aproxime com os faróis acesos. A ideia é que as renas fiquem visíveis durante a noite para que os automobilistas possam evitar possíveis colisões.
Ana Lama e Eunice Artur assustaram-se quando viram as renas à noite e, com isso, perderam o controlo do carro. Uma situação dramática para elas, que levou a uma crise emocional.
Enquanto esperavam por socorro, entraram em desespero, já que passaram duas horas a tentar perceber como podiam carregar os telemóveis para pedir ajuda.
O frio começou a tornar-se insuportável, e, além disso, na noite anterior, na estalagem onde pernoitaram, tinham falado com um casal italiano que lhes contou histórias macabras sobre um serial killer que estava a deixar a população da região em pânico.
Tinham ouvido a história de um assassino que marcava encontros pela Internet. Assassinando mulheres. E que, pelas marcas nos corpos e pela informação da polícia, se percebia ser particularmente cruel, utilizando ferramentas destinadas ao cuidado dos cascos das renas.
Depois da situação surreal do avistamento de renas flamejantes e com o passar do tempo, à medida que a escuridão da floresta se foi adensando, começaram a sentir medo e a conjeturar sobre o que lhes tinha acontecido, associando o episódio à hipótese de o assassino ser um criador de renas.
À noite, na floresta…
Eunice Artur, na sua prática artística, trabalha com fotografia, som, desenho, vídeo, escultura, instalação e performance, e tem estado presente em várias exposições individuais e coletivas em Portugal, Espanha, Reino Unido, Itália, Grécia e Canadá.
Em 2017, colaborou no artigo «Sound as a Medium, the Performer as a Medium», na conferência internacional Electroacoustic Winds 2017: Synchresis – Audio Vision Tales, que se centrou na relação entre som e imagem. Foi artista residente na Biennale Internationale du Lin de Portneuf, no Quebeque, onde desenvolveu uma investigação sobre os conceitos de errância, nomadismo e viagem.
A captação videográfica da performance «A Arca do Vento» ficará a cargo da realizadora Aya Koretzky, que irá documentar cada detalhe, dos preparativos à chegada da artista e ao momento da performance.
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Ficha Técnica:
PERFORMANCE: Eunice Artur
CURADORIA: Nuno Oliveira e Margarida Chambel
REALIZAÇÃO VÍDEO: Aya Koretzky
APOIO TÉCNICO: Isabel Simões
APOIO VÍDEO E COMUNICAÇÃO: Gabriel Marmelo
APOIO COMUNICAÇÃO:Luísa Morante, Teresa Melo
REVISÃO DE TEXTO: Joaquim E. Oliveira
TRADUÇÃO: Maia Horta
APOIOS: República Portuguesa - Cultura DGARTES; Câmara Municipal de Lisboa; Polo Cultural das Gaivotas; FBAUL
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LOCAIS, DATAS E HORÁRIOS DE APRESENTAÇÃO:
22 de fevereiro, 2025
19h00
Cisterna da Faculdade de belas Artes da Universidade de Lisboa
Performance A Arca do Vento de Eunice Artur (Portugal).
+ REALIZADORA Aya Koretzky
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INFORMAÇÕES SOBRE BILHETEIRA:
Entrada livre
Lotação limitada.
Reservas: galeriaanalama@gmail.com
M/16
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LINK PARA SITE:
https://www.galeriaanalama.org/ (Site em atualização)