A Associação UmColetivo, a livraria Tigre de Papel e o CCCV – Centro Cultural de Cabo Verde, apresentam o livro "Contos”, de Orlanda Amarílis, esta sexta-feira, 10 de janeiro, às 18h3o, no CCCV, Lisboa (Rua de São Bento, 640). A sessão conta com a participação do grupo de batuque "Batucadeiras das Olaias". A entrada é livre.
CONTOS
Sobre o livro
«Editar os contos de Orlanda Amarílis é ir ao interior de um vulcão e escutar a lava de quem, ao longo de tantas vidas, foi feito de silêncio. O apagamento de vários anos que desejamos que se subverta é não só aquele que recai sobre a obra da autora editada: são as vidas ficcionadas que desfilam e são mapeadas em seus contos, desfazendo fantasmas e vazios para compreender uma raiz que, afinal, é mesmo impossível de arrancar. Orlanda Amarílis descreve os lugares e as personagens pela linguagem, fá-las serem absolutamente transversais, imaginadas, mas reais. Os apontamentos de palavras em crioulo cabo-verdiano não formam frases, antes expressões idiomáticas. Ao longo das leituras, perguntámo-nos muitas vezes em que língua teria escrito hoje Orlanda Amarílis, depois de a língua cabo-verdiana se ter afirmado além do crioulo, sob o ponto de vista político. Talvez estes contos não fossem património da língua portuguesa. Não sabemos. Não saberemos. Se o são, que nos sirvam o pensamento coevo para perspetivar o peso colonial sobre o corpo desta obra e de cada uma das suas personagens.» do prefácio de Cátia Terrinca e Ricardo Boléo
Fonte: https://tigrepapel.pt/loja/ficcao-lingua-portuguesa/contos/
ORLANDA AMARÍLIS
Sobre Orlanda Amarílis
«Orlanda Amarílis Lopes Rodrigues Fernandes Ferreira (Santa Catarina, 08 de outubro de 1924 – Lisboa, 01 de fevereiro de 2014) pertence a uma família de grandes figuras literárias. Era filha de Alice Lopes [da Silva] Fernandes e de Armando Napoleão Fernandes, autor do primeiro dicionário de língua crioula-portuguesa, O Dialecto Crioulo – Léxico do Dialecto Crioulo do Arquipélago de Cabo Verde, e da Gramática do Crioulo de Cabo Verde (obra incompleta e ainda inédita). Amarílis era igualmente sobrinha de José Lopes da Silva e prima de António Aurélio Gonçalves e de Baltasar Lopes da Silva. Foi casada com o escritor Manuel Ferreira.
A jovem Orlanda Amarílis, única menina entre os rapazes da Academia Cultivar, iniciou a sua carreira literária na Fôlha da Academia Certeza (São Vicente, 1944-1945) publicando, logo no seu primeiro número, o texto “Acêrca da Mulher”. (…)
Histórias de mulheres-sós
Cais de Sodré té Salamansa (Coimbra, 1974), Ilhéu dos pássaros (Lisboa, 1983) e A casa dos mastros (Lisboa, 1989) são os livros de contos de Orlanda Amarílis. Cada um deles com sete contos cujas personagens principais são mulheres e constituem retratos da vida da mulher cabo-verdiana enquanto mulheres-sós, nas ilhas e na terra-longe.
Situando-se a contadora de histórias fora do seu espaço de origem, as histórias que conta são “histórias trazidas” de Cabo Verde, que fazem parte da sua identidade, registadas e partilhadas nesses livros.
A forma de oralidade no contar das histórias e a linguagem da narrativa, com imagens da realidade das ilhas e de uma língua de mistura do português e do crioulo, prende e encanta o público leitor.
Cais de Sodré té Salamansa (1974) – livro de estreia de Orlanda Amarílis cujo primeiro conto, “Cais de Sodré” [Lisboa], dá o mote às histórias que irão seguir e que são evocativas da terra de origem das personagens ou vividas ali no mundo estrangeiro da cidade grande. A fechar, o conto “Salamansa” [São Vicente] é o retorno nostálgico à terra natal, mas com vontade de tornar a partir.
Ilhéu dos pássaros (1983) – diferentemente dos outros livros em que um conto dá título ao conjunto, neste, o tópico “ilhéu dos pássaros” é indicado em cada uma das portadas funcionando como um fio que conduz e liga o rosário de histórias, entretecendo-as e fazendo-as um todo coeso.
A casa dos mastros (1989) – no conto que empresta o título ao livro, a história gira à volta dos habitantes da casa e das pessoas que por lá circulam. Violete, seu pai, a madrasta Dona Maninha, a empregada Isabel, o primo Alexandrino, Padre André e Augusto, noivo de Violete, são as personagens que compõem essa trama que transgride as relações quotidianas. “O mastro é um sinal, é um signo”.
Livros infanto-juvenil
Orlanda Amarílis é também autora de três livros infanto-juvenil: Folha a folha (Lisboa Editora, 1987), Facécias e Peripécias (Porto Editora, 1990) e A Tartaruguinha (Instituto Camões/Centro Cultural Português Praia-Mindelo, 1997).
A obra de Orlanda Amarílis é objecto de várias teses de doutoramento, nomeadamente, “O realismo na obra de Orlanda Amarílis”, de Isabel Maria Rondoni Martins Abranches Baptista Ramos, Universidade de Évora (UE), 2002; “Caleidoscópio de cenas: Narrativa de autoria feminina e reflexão sobre o espaço sociocultural em Cabo Verde”, de Sonia Maria Santos, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2004; “Caminhos da ficção cabo-verdiana produzida por mulheres: Orlanda Amarilis, Ivone Aida e Fátima Bettencourt”, de Pedro Manoel Monteiro, Universidade de São Paulo (USP), 2014; e “Casa de silêncio, Mar de solidão: o espaço literário nos contos de Orlanda Amarílis e de Sophia de M. B. Andresen”, de Fabiana Miraz Freitas Grecco, Universidade Estadual Paulista (UNESP), 2014. Existem igualmente várias dissertações de mestrado produzidas, sobretudo, no Brasil, numa perspectiva comparada.» Manuel Brito-Semedo
Data de publicação: 08.01.2025